O agosto diferente de todos os outros agostos

Portugal

Ruas sem grandes aglomerações por conta do coronavírus e as festas de agosto canceladas. Assim está Portugal neste verão de 2020. Source: Horacio Villalobos#Corbis/Corbis via Getty Images

Este ano não há festas populares nas aldeias de Portugal nem as romarias nas cidades do norte do país


Agosto, o mês que habitualmente é o de maior correria para os artistas da música popular portuguesa que animam as aldeias do interior de Portugal, transformou-se no “mês da festa frustrada”.

A tradição manda que em agosto há festa em todas as aldeias de Portugal, mais intensa no norte do país, com o Minho à cabeça. Há arraiais com comes e bebes, muita música, fogo de artifício e bailes pela noite fora.

Nas cidades, o arraial cresce na dimensão e no tempo. São célebres as festas de São Mateus em Viseu (prolongam-se por um mês), da Senhora da Agonia em Viana do Castelo, ou da Nossa Senhora dos Remédios em Lamego. 

Juntam-se os que vivem nas redondezas e os tantos emigrantes que nesta altura voltam em férias do trabalho em França, na Suíça, no Luxemburgo, na Alemanha ou em outro dos muitos destinos da migração portuguesa, incluindo África do Sul, EUA, Canadá e Austrália.

Este ano, por causa da pandemia, há forte redução do número de migrantes que voltam à terra para as férias, e pela mesma razão do COVID-19, as festas, arraiais e romarias estão proibidas pelas autoridades de saúde. Os fogos de artifício também interditos por outra razão: o alto risco de incêndios.

José Maria Costa, presidente da Câmara de Viana do Castelo, cidade que costuma vibrar em agosto com as festas da Senhora da Agonia, afirma que o cancelamento destas festas representa uma perda de receitas na ordem dos dez milhões de euros. Em anos normais, “passavam pela cidade, durante os dias das festas, cerca de 1,5 milhões de pessoas que ficavam alojadas, faziam refeições, compravam ouro e outros produtos tradicionais nas lojas de comércio local e movimentavam toda a economia”. “Se juntarmos o cancelamento de outros eventos que habitualmente decorrem em agosto, como por exemplo o festival de música electrónica, os prejuízos podem chegar aos 12 milhões”, só na cidade de Viana do Castelo.

Acresce que o turismo estrangeiro está praticamente nulo, com exceção dos espanhóis da vizinha Galiza, este ano até em maior número, talvez porque muitos outros destinos de férias estão tapados pelos receios da pandemia.

Os artistas da música popular também estão a seco. O popularíssimo Quim Barreiros não conhecia um agosto que não significasse “31 dias e 32 festas” há mais de 30 anos. O mesmo poderá dizer Toy, que, em qualquer outro verão, estaria neste momento ocupado com a sua “Volta a Portugal”. Neste ano, nada.

Destas festividades, não dependem só os músicos e os comerciantes. 

Dependem também os técnicos que montam os palcos, as iluminações, as tendas ou o fogo-de-artifício e quem vive dos comes e bebes. Muitos empresários do sector das diversões e da restauração itinerantes queixam-se de terem ficado sem rendimentos depois de as festas e romarias terem sido canceladas. Há famílias inteiras a passar grandes dificuldades. Com uma angústia acrescida. Não sabem quando poderão voltar. As autoridades de saúde em Portugal seguem inflexíveis: as festas são lugar de risco de contágio com o vírus que, apesar de controlado, continua a contagiar umas 200 pessoas em cada dia, por isso não há autorização para festas.

Até no combate aos incêndios florestais, nestes dias de calor à volta dos 40 graus, com ignições frequentes, também os bombeiros e militares têm de seguir um regulamento de distância social. Tem sido, aliás, privilegiado o combate aéreo às chamas. Neste fim de semana, com uma tragédia, um avião Canadair que participava no combate a um fogo no Gerês, depois de carregar o depósito de água na barragem do Alto Lindoso, despenhou-se, causando a morte do piloto comandante e ferimentos graves no adjunto.

Este agosto português está diferente de todos os outros agostos.

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