A eleição para presidente que dividiu o Brasil

Luis Bogliolo, professor da Escola de Direito da Universidade de Melbourne faz uma análise do momento político brasileiro a poucos dias das eleições. “Acho que essa eleição é diferente das eleições passadas, acho que o nível de tensão tanto no país quanto para os brasileiros que estão no exterior fez com que as pessoas se envolvessem muito mais.” Segundo ele, a polarização ideológica tornou o resultado imprevisível.

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De acordo com Luis Bogliolo, professor da Escola de Direito da Universidade de Melbourne, e autor do artigo Elections in Brazil: is Democracy itself on the ballot?  o quadro de polarização ideológica extrema que se vê atualmente no Brasil começou a ser delineado há 4 anos.

“Acho que os motivos dessa divisão vêm desde o início do segundo mandato da ex-presidente Dilma Rousseff, que polarizou bastante o país, na época, entre o PSDB e o PT. Foi um governo que acho que frustrou as expectativas dos brasileiros, e depois o impeachment foi bastante controverso, agravou ainda mais as divisões. A gente chega hoje com a perspectiva de um candidato que até poucos anos atrás era praticamente desconhecido liderando as pesquisas e com chance de ganhar.”

#elenao
Para Luis, o movimento “#elenao”, que contou com manifestações nas ruas tanto no Brasil como em várias cidades do mundo, inclusive Sydney e Melbourne, é muito importante.  “O movimento #elenao une as pessoas tanto da direita quanto da esquerda e reúne pessoas ao redor de uma ideia comum. É um movimento sobretudo organizado pelas mulheres, acho que vem na hora certa.”

Mulheres na rua: protesto #elenao em São Paulo no sábado 29 de setembro Source: AAP Image/ Gustavo Basso/NurPhoto/Sipa USA

“Aqui na Austrália mesmo a comunidade brasileira se divide bastante entre aqueles que protestaram e outros que apóiam o candidato da extrema direita.“

Luis alertou para o fenônemo da ‘fake news’ que tem sido bastante explorado nas mídias sociais. “Acho que boa parte da campanha política tem sido realizada pelas redes sociais o que tem tornado as dicussões um pouco mais difíceis,  eu tenho visto bastante notícias tanto de amigos de direita quanto de esquerda sem nenhuma base em realidade, sem nenhuma consideração com fatos, e isso gera um grande problema para as pessoas conseguirem discernir [o que é fato e o que é realidade].”

Manifestações a favor de Jair Bolsonaro foram feitas no Rio de Janeiro no domingo 30 de setembro Source: AAP Image/ Mateus Bonomi / Ian Cheibub / AGIF (via AP)

A poucos dias da eleição, Luis Bogliolo diz que será uma campanha política com um resultado imprevisíveil, segundo ele, "haverá uma polarização extrema entre os que apóiam o Haddad ou qualquer candidato menos o Bolsonaro."

"Acho que as campanhas serão de um nivel mais polarizado, mais baixo. Eu sinto que o potencial de violência tem aumentando bastante e talvez esse segundo turno tão polarizado continue com essa tendência. Daí fica difícil prever o que vai acontecer.”

“A polarização deixa de lado questões importantes e coloca em primeiro plano respostas rápidas e vazias, eu acho que a polarização tem trazido o nível do debate muito para baixo, e que tem sido bastante prejudicial,” disse Luis Bogliolo.

O artigo Elections in Brazil: is Democracy itself on the ballot?, de Luis Bogliolo, foi publicado pela revista Pursuit, da Universidade de Melbourne, no dia 27 de setembro. Para ler, clique aqui.