Economia de guerra em Portugal como em toda a Europa: os preços disparam. Há escassez de cereais e crise energética

posto gasolina Portugal

O preço que os automobilistas estão a pagar pelo combustível em Portugal nunca esteve tão alto e na próxima segunda-feira vai subir ainda mais. Source: EPA/TIAGO PETINGA

À seca e à escalada de preços na energia e nos combustíveis juntou-se a guerra entre a Rússia e a Ucrânia, dois dos maiores fornecedores mundiais de cereais, que gerou uma subida descontrolada do custo de várias matérias-primas essenciais para a produção alimentar e que pode provocar uma escassez que muito provavelmente obrigará à imposição de racionamentos em Portugal.


Entre os agricultores, os produtores de carne, leite, pão e ovos e os industriais do sector alimentar em Portugal não há memória de uma situação tão grave como a que o país enfrenta atualmente.

À seca e à escalada de preços na energia e nos combustíveis juntou-se a guerra entre a Rússia e a Ucrânia, dois dos maiores fornecedores mundiais de cereais, que gerou uma subida descontrolada do custo de várias matérias-primas essenciais para a produção alimentar e que pode provocar uma escassez que muito provavelmente obrigará à imposição de racionamentos em Portugal.

A espiral de subida é tal que há fornecedores de farinhas a fixar o preço ao dia. Nas farinhas, que constituem o principal ingrediente de produtos tão diversos como pão, massas e rações para animais, é onde se sente a maior pressão. Num ano, um quilo de farinha para pão saltou de €0,35 para €0,57 e poderá chegar aos €0,77 já no próximo mês.

No retalho, a venda de óleo de girassol — necessário para as conservas — já está a ser restringida.

O milho é o maior componente das rações para animais. Só na última semana, o preço de uma tonelada saltou de €300 para €420. E os animais para consumo humano só têm ração até abril.

Perante a escassez de cereais na Europa, Portugal vira-se para outras geografias, mesmo que os custos logísticos associados ao transporte disparem por se tratar de origens mais distantes. Além da África do Sul, estão agora na mira o Canadá, os Estados Unidos, o Brasil, a Argentina e também a Austrália.

Os preços de produtos básicos em geral estão a disparar 20% a 30% só nestas duas semanas que leva a guerra, tornando vários bens de consumo inacessíveis a milhares de famílias de baixos rendimentos.

A conjuntura está a criar um tal clima de ansiedade que no sector alimentar começa a haver corrida aos supermercados para antecipar novos aumentos.

O mesmo está a acontecer com os combustíveis. O preço que os automobilistas estão a pagar pelo combustível nunca esteve tão alto e na próxima segunda-feira vai subir ainda mais, refletindo o agravamento da cotação do petróleo e dos produtos refinados.

Neste sábado, o preço médio da gasolina simples em Portugal ascendia a €1,93 por litro, mais 25% do que a 12 de março do ano passado. No mesmo período o gasóleo encareceu 35%.

Considerando um perfil de consumo, com percursos de 100 quilómetros por dia, o gasto mensal com gasolina está agora nos €256, mais €51 do que há um ano.

Estão a ser conhecidos, através de previsões, os primeiros números da fatura que a Europa irá pagar pela agressão de Putin à Ucrânia. O choque energético poderá custar à Alemanha €20 mil milhões e ao Reino Unido mais de €14 mil milhões. Contas da seguradora alemã Allianz.

Desde o início da invasão russa da Ucrânia, a 24 de fevereiro, o barril de petróleo subiu 25%. Mas no acumulado dos últimos 12 meses essa subida já ronda 90%. 

A guerra, que dispara o preço dos combustíveis e a escassez de matérias primas, a que se junta a seca, está a colocar Portugal e a generalidade dos países europeus em economia de guerra. Temos uma guerra na Europa com um potencial de alastramento como nunca antes em 70 anos.


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