"Foi no nosso primeiro Mardi Gras que recebi a minha residência permanente na Austrália", diz Nuno Pires

John e Nuno, num dos muitos concertos a que já assistiram juntos ao longo dos últimos 12 anos juntos. Madonna é, aliás, a cantora preferida do John.

John e Nuno, num dos muitos concertos a que já assistiram juntos ao longo dos últimos 12 anos. Madonna é, aliás, uma das suas artistas preferidas. Source: Imagem de cortesia de John Fisher

Nuno Pires, português e oficial de apoio à missão do governo australiano na Papua Nova Guiné, e o seu marido John Fisher, australiano e funcionário do governo, ambos a viverem em Port Moresby, capital da Papua Nova Guiné, conversaram com a SBS acerca, não só do que representa o Mardi Gras na história do seu casamento, mas também da importância que o festival tem para toda a comunidade em geral.


 

O Festival Mardi Gras de Sydney acontece ano após ano, sem interrupção, desde 1978. E cada vez é um evento maior, mais relevante e por isso, também, mais divulgado e respeitado não só pela comunidade LGBTQIA+ mas pela comunidade em geral, incluindo adultos, crianças e idosos oriundos de todo o género de família.

Todos são convidados a assistir, ou a desfilar, no Mardi Gras Parade que une milhares de pessoas independentemente da cultura, profissão e/ou experiência pessoal, há já mais de quatro décadas.


  • Nuno Pires, de Tomar (Portugal) e John Fisher, de Camberra (Austrália) conheceram-se em Lisboa há 12 atrás e casaram-se em 2019, depois do matrimónio entre pessoas do mesmo sexo ser aceite em Portugal e na Austrália
  • O casal já viveu em vários países, e neste momento está na Papua Nova Guiné; mas regressarão à Austrália em 2023/2024
  • O Mardi Gras é um evento marcante na história de amor dos dois
  • Mardi Gras é a maior celebração LGBTQiA+ da Austrália e este ano promete ser ainda mais especial

Este ano, o `2022 Sydney and Lesbian Mardi Gras Parade´ está marcado para este domingo, dia 5 de março, às 18h. E apesar do tumulto mundial que a pandemia Covid-19, e agora também o conflito militar na Ucrânia e até as cheias na Austrália, trouxe à vida de todos, nada pára o Mardi Gras. E ainda bem.

Desta vez, o desfile não será na Oxford Street, onde todos costumam reunir-se no centro da cidade de Sydney. Por questões de segurança, o desfile acontecerá no Sydney Cricket Ground (SCG), um local que reúne as condições necessárias de segurança e que permite que se cumpram as restrições básicas da Covid-19 – distância física mínima e rastreio de contatos. Todas as pessoas (elementos da organização, artistas, participantes, voluntários e staff) terão que estar duplamente vacinadas, a não ser que tenham isenção médica.

Para o Nuno e o John, o Mardi Gras representa tanto, mas tanto, que eles fazem de tudo para participar o mais possível no evento, viajando de onde quer que estejam diretamente para Sydney, só para não perderem o momento.
John Fisher, à esquerda, Nuno Pires, à direita, num dos Mardi Gras em que participaram
John Fisher, à esquerda, Nuno Pires, à direita, num dos Mardi Gras em que participaram Source: Imagem de cortesia de John Fisher
"Foi no nosso primeiro Mardi Gras juntos, que recebemos o email a garantir a minha permanência na Austrália e, por isso, o festival tem um lugar especial da nossa história", diz o Nuno, que deixou uma vida profissional bem-sucedida, casa própria, família chegada, e bons amigos para trás, em Portugal, para seguir o seu coração e viver o amor da sua vida junto de John, o seu marido australiano, nascido em Camberra, com quem partilha tudo há já 12 anos.
Um dia muito especial para John e Nuno - o seu casamento em Portugal, em 2019
Um dia muito especial para John e Nuno - o seu casamento em Portugal, em 2019 Source: Imagem de cortesia de John Fisher
John é pai de Olivia Fisher, fruto de um primeiro casamento de muitos anos que terminou numa amizade que dura até agora. Hoje, Olivia já é uma mulher, bem resolvida e informada, que mantém uma excelente relação tanto com a mãe, como com o seu pai e o Nuno. Diz John que ela cresceu como a típica adolescente “ bem Aussie”, e que cedo se habituou a entender e a aceitar a identidade e, consequentemente, as naturais escolhas e decisões do seu pai.
John e Nuno, maquilhados e a viver em pleno a tradição do Mardi Gras
John e Nuno, maquilhados e a viver em pleno a tradição do Mardi Gras Source: Imagem de cortesia de John Fisher
Pai e filha ainda não tiveram oportunidade de partilhar um Mardi Gras na Austrália juntos, “simplesmente, ainda não aconteceu”, diz John. Contudo, Olivia já assistiu com o John e o Nuno à grande festa LGBTQIA+, ´Orgulho´, em Lisboa. “A Olivia está habituada desde sempre ao ambiente deste género de eventos, e diverte-se imenso. Mas em Portugal, como se sabe, tudo arranca mais tarde e termina tardíssimo comparativamente com a Austrália, e na ´Orgulho´, a Olivia acabou a festa exausta”, recorda John, entre gargalhadas.
Foto de casamento do John e do Nuno, com a presença de todos os amigos e familia. Olivia Fisher, filha de John, está na segunda fila em cima, no meio.
Foto de casamento do John e do Nuno, com a presença de todos os amigos e familia. Olivia Fisher, filha de John, na segunda fila, em cima, ao centro. Source: Imagem de cortesia de John Fisher
Mas o casal tem muito mais para contar acerca da sua vida; do seu casamento; da sua opinião pessoal sobre o Mardi Gras (onde já participaram como público e também como voluntários na organização do evento); de como acreditam que o Mardi Gras de 2022 será, na opinião de John, “especial e um escape dos horrores atuais do mundo”; e, finalmente, de como consideram essencial que “toda a gente se permita o direito de sentir alegria, expressar afeto, e socializar por umas horas que seja, graças ao Mardi Gras deste domingo” - apela Nuno, com a emoção de quem vê o evento como uma ode à esperança, à liberdade e ao amor.

Oiça tudo na entrevista completa à SBS em português, clicando na imagem de abertura deste artigo. E deixe-se ´desfilar´no Mardi Gras de 2022 pelas mãos de Nuno e do John, um casal verdadeiro, multicultural, feliz e orgulhosamente gay.


  • O que significa LGBTQIA+?
  • A sigla é dividida em duas partes. A primeira, LGB, diz respeito à orientação sexual do indivíduo. A segunda, TQIA+, diz respeito ao gênero.
  • L: Lésbica - mulher que se identifica como mulher e têm preferência sexual por outras mulheres.
  • G: Gay - homem que se identifica como homem e tem preferência sexual por outros homens.
  • B: Bissexual – pessoas que têm preferências sexuais pelo gênero masculino e feminino.
  • T: Transexuais, travestis e transgénicos - pessoas que não se identificam com os géneros impostos pela sociedade, masculino ou feminino, atribuídos na hora do nascimento e que têm como base os órgãos sexuais.
  • Q: Queer - pessoas que não se identificam com os padrões heterossexuais impostos pela sociedade e transitam entre os ´géneros´, sem que também concordem, necessariamente, com quaisquer tipos de ´rótulos´.
  • I: Intersexo – Apelidadas de hermafroditas, noutros tempos, são hoje as pessoas que não conseguem ser definidas de maneira distinta, nem como masculino nem feminino.
  • A: Assexuais - pessoas que não sentem atração sexual por ninguém em particular podendo, ou não, envolver-se romanticamente com outra pessoa.
  • +: Engloba todas as outras categorias descritas, incluindo as pessoas que se identificam com a letra ´P´de pansexualidade, que significa sentir atração, independentemente do género ou da orientação sexual.

Para mais informações acerca do Festival Mardi Gras de 2022, aceda ao link oficial do evento:



 

 

 

 

 


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