O sanfoneiro mais famoso da Austrália, Ricardo Bona, recebe o visto Global Talent

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Trazendo a sanfona brasileira para down under: Ricardo Bona conseguiu provar seu talento único e como a Austrália precisa dele.

Ricardo Bona recebeu um dos vistos mais sonhados pelos brasileiros na Austrália, o Global Talent. Nessa ampla entrevista ele nos guia pelos pontos altos de sua carreira e fala, em detalhes, como conseguiu provar ao Departamento de Imigração que seu trabalho como músico, e porque não, o som da sanfona sentida, está em alta demanda na Austrália.


Pontos principais
  • O visto Global Talent é um visto permanente para pessoas consideradas excepcionalmente talentosas e proeminentes em sua área de atuação.
  • Bona foi reconhecido pelo seu talento com a sanfona e por provar que a Austrália pode se beneficiar disso.
  • Indivíduos que recebem o Global Talent ganham residência permenente automática, e se permanecerem na Austrália, cidadania.
Ricadro Bona e a esposa chegaram na Austrália em julho de 2017, ambos com visto de estudante, entraram com o pedido para o Global Talent em 2020, “quando estourou a Covid”, e receberam visto em janeiro de 2023.

A seguir os principais trechos da entrevista, que vale a pena ser ouvida na íntegra, fazendo o download do áudio no topo dessa página.
Sanfona brasileira Ricardo Bona
"Eu costumo dizer que a Austrália é um terreno vazio e fértil. Qualquer coisa que você planta aqui, vai para frente," diz Bona. Credit: supplied
Porque você optou pelo Global Talent um dos vistos mais difíceis de serem obtidos? 
Todo brasileiro que chega na Austrália sente a vontade de migrar. Eu e minha mulher chegamos com visto de estudante e começamos a explorar maneiras de ficar. Eu já estava construindo minha carreira aqui, não queria arriscar outro caminho que não fosse o da cidadania. Também vi que com relação aos muitos requisitos do visto, eu atendia a todos.
Ricardo Bona
"Thanks Sanfona Sentida": Ricardo Bona viaja pela Austrália animando as festas da comunidade
Você contratou um agente de imigração ou advogado, ou solicitou o visto sozinho?
A gente contratou um advogado porque o índice de sucesso desse visto é pequeno e quase sempre você tem que ir ao tribunal para consegui-lo. Mas para conseguir esse visto você tem que contar a sua história para a imigração, basicamente tem “que se provar”. Explicar porque a Austrália precisa de você. Fizemos uma biografia da minha vida, de certa maneira foi fácil, não tive que inventar nada.

Listei minhas principais conquistas na carreira, os festivais internacionais que participei, as muitas parcerias que fiz no Brasil e fora dele. Comprovei tudo com artigos de jornais do Brasil e na Austrália, com a entrevista que eu dei para você, pela SBS em Português.

O que que você disse para provar que a Austrália precisa de um músico acordeonista como você?
Você não apresenta apenas o instrumento que toca, mas qual o diferencial que você tem. O forró era o meu era forte.

A demanda por professores de sanfona é alta e a oferta é baixa. Têm poucos acordeonistas, é um instrumento exótico não só na cultura brasileira como na cultura australiana. Isso é fundamental, não adianta demonstrar que é um “pianista excepcional” se não há demanda para mais pianistas na Austrália. Outro fator que deve ter pesado é meu trabalho comunitário. Provei que fiz muitos workshops oficinas participando de eventos e ensinando a tocar sanfona.


Finalmente ajudou muito eu ter viajado pela Austrália fazendo shows, apresentações com a minha sanfona.

Um dos principais requisitos é uma carta de referência, quem foi a pessoa que te nomeou?
Eu conheci a senhora Tatjana Marx, presidente da Australian Accordion Teachers Association. Ela me convidou para representar o Brasil em um campeonato de acordeon. Participei como convidado especial representando a sanfona brasileira.

Eu consegui o endosso da autoridade máxima do acordeon na Austrália, uma nomeação de peso.
Tatjana Max
A carta de nomeação assinada pela professora Tatjana Marx, presidente da Australian Accordion Teachers Association [fotografada aqui com uma aluna] foi fundamental para a conquista do visto Global Talent de Ricardo Bona. Credit: pianoandaccordion.com
Quais foram os custos desse visto?
O preço do visto gira em torno de AU$ 4200 por pessoa. Como a gente contratou advogado esse custo subiu para AU$15 mil.

Mas assim que pagamos, entramos no Bridging Visa, ali tivemos acesso ao sistema público de saúde, o Medicare e já podíamos trabalhar 40 horas por semana. Nesse visto nós ganhamos tempo e vimos também uma mudança radical na nossa qualidade de vida. Vimos como seria a nossa vida com um visto permanente.

Investimos alto pois tínhamos certeza que iríamos recorrer no tribunal, daí a contratação do advogado, no final, conseguimos direto, sem contestação judicial, pedido de revisão, nada.

Como vocês se sentiram já que o visto foi dado a você e sua esposa?
Foi uma explosão de alegria. Antes estávamos mudando de cidade, sem sabe do amanhã, se íamos ficar aqui ou não. Agora é achar um local definitivo, construir um ninho.
Ricardo Bona
"Você não apresenta apenas o instrumento que toca, mas qual o diferencial que você tem. O forró era o meu era forte."
Quais são so planos futuros agora que não precisam mais se preocupar com a sua permanência na Austrália?
Quero validar meu diploma aqui. Sou formado em educação musical e quero trabalhar nessa área, Estou gravando no estúdio um álbum só de músicas autorais. Eu tenho uma roda de choro aqui, tenho uma banda. Muito trabalho pela frente.

Tudo isso de alguma maneira foi o resultado de dedicar sua vida à sua paixão pela sanfona?
Acordar, trabalhar, me dedicar, é como se fosse uma gotinha de felicidade que pinga em mim todo dia.

A oportunidade que eu estou tendo aqui, isso é um privilégio. Apesar de estar se desenvolvendo tecnologicamente, culturalmente eu acho que Austrália está se construindo. Tem muitas culturas vindo para cá e eu amo essa essa mistura. Semana que vem vou tocar com os Mariachis mexicanos e estou adorando.
É muito legal poder mostrar o significado da sanfona na música brasileira. Eu costumo dizer que a Austrália é um terreno vazio e fértil. Qualquer coisa que você planta aqui a ela vai para frente.
Sanfoneiro Ricardo Bona
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