Polícia brasileira confirma que Dom Phillips e Bruno Pereira foram mortos a tiros

Bruno Araújo Pereira e Dom Phillips

Bruno Araújo Pereira e Dom Phillips Source: Funai e Twitter/@domphillips

Um dia depois dos investigadores identificarem os restos mortais encontrados enterrados numa parte remota da Amazónia como sendo os do jornalista Dom Phillips, as autoridades avançaram que o segundo conjunto de restos mortais pertencia ao expert Indígena brasileiro Bruno Pereira. A polícia confirmou também que ambos morreram a tiro.


O jornalista britânico, Dom Phillips, e o investigador Indígena brasileiro, Bruno Pereira, cujo desaparecimento na Amazónia há cerca de duas semanas provocou protestos internacionais, foram mortos a tiros, segundo informou a polícia brasileira neste sábado.

Um dia depois dos investigadores identificarem partes do cadáver enterrado numa zona remota da Amazónia como sendo de Phillips, as autoridades confirmaram agora que os outros vestígios mortais pertenciam ao seu guia, Pereira.

A polícia brasileira também já apurou que ambas as vítimas perderam a vida por meio de arma de fogo - Phillips, de 57 anos, terá sido atingido por um único tiro no peito, e Pereira, de 41, terá levado três tiros, um deles na cabeça, com balas que são normalmente usadas para caça.
Pereira era um defensor e ativista dos direitos indígenas, tendo recebido várias ameaças de morte por lutar por esta causa.

Os dois homens foram dados como desaparecidos no dia 5 de junho deste ano, tendo sido avistados pela última vez numa parte isolada da floresta tropical, onde é sabida a existência de ilegalidades nas áreas das atividades mineiras, pesca, extração de madeira e também tráfico de drogas.

Dez dias depois do desaparecimento dos dois homens, um suspeito levou a polícia a um local próximo da cidade de Atalaia do Norte, no oeste do Amazonas, onde disse ter enterrado corpos. Pouco depois, o irmão do suspeito também foi detido.

A polícia disse ainda neste sábado (18 de junho) que um outro suspeito, identificado como Jefferson da Silva Lima, também conhecido como "Pelado da Dinha", entregou-se na delegacia de Atalaia do Norte.

O comissário Alex Perez Timoteo disse ao website de notícias G1 que todas as provas e depoimentos recolhidos até agora indicaram que o suspeito "esteve no local do crime e participou ativamente deste duplo homicídio".

Timoteo disse ainda aos jornalistas que é "bastante provável" que haja mais apreensões associadas a este caso nos próximos dias:

"Vamos tentar perceber se houve um acordo prévio (entre os suspeitos), se estavam a planear esta situação", disse o comissário, acrescentando que o terceiro suspeito não é familiar dos dois irmãos envolvidos no crime.
A polícia disse ainda na passada sexta-feira (17 de junho) que acredita que os criminosos "agiram sozinhos, sem que houvesse um autor intelectual ou organização criminosa por trás do crime".

Ativistas culparam o presidente brasileiro, Jair Bolsonaro, por estes assassinatos alegando que o político permite a exploração comercial da Amazónia às custas do meio ambiente, da lei e da ordem.

Por seu turno, Bolsonaro tentou culpar os próprios homens por realizarem uma viagem "imprudente" numa área onde Phillips não era "apreciado".

'Não foram apenas dois assassinos'

Phillips, um colaborador de longa data de vários jornais internacionais importantes, incluindo o jornal britânico The Guardian, estava a trabalhar num livro sobre desenvolvimento sustentável na Amazónia tendo Pereira como seu guia.
Pereira, um expert da agência brasileira de assuntos Indígenas FUNAI, recebeu várias ameaças de madeireiros e garimpeiros que estão sempre de olho nas terras Indígenas isoladas.

A associação de povos Indígenas Univaja, que participou da busca policial, rejeita a conclusão da polícia de que os assassinos agiram sozinhos:

"Não se trata apenas de dois assassinos, mas sim de um grupo organizado que planeou o crime ao detalhe", disse a Univaja num comunicado.

O grupo alegou que as autoridades ignoraram inúmeras queixas apresentadas devido a atividades de gangues criminosas naquela área da Amazónia.

A representante brasileira do Comité para a Proteção dos Jornalistas (CPJ), Renata Neder, disse ser "imprudente" e "preocupante" que a polícia tenha dito tão cedo na investigação que os assassinos agiram sozinhos.
"No Brasil existe um padrão histórico de que em casos de assassinatos de jornalistas e defensores de direitos humanos, quando há uma investigação, apenas os executores são levados à justiça, mas muito raramente o seu mandante", disse Neder à AFP.

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