Protesto por Marielle em Sydney: "Não foi mais uma morte. Foram milhares de mortes em 9 tiros..."

Marielle Franco

Source: Facebook

Nadyne Piotto, uma das organizadoras do protesto em memória de Marielle Franco em Sydney nesta segunda-feira, diz nesta entrevista que o protesto é para unir os brasileiros, e que "o que aconteceu com Marielle ultrapassa qualquer diferença política" que as pessoas possam ter.


Nadyne faz questão de ressaltar que a manifestação tem por objetivo abrir o diálogo, sem trazer nenhuma questão ou posicionamento político-partidário.

A mobilização de brasileiros ao redor do mundo está acontecendo também na Austrália, após o assassinato da vereadora carioca Marielle Franco e do seu motorista, Anderson Gomes, com protestos em Melbourne, Brisbane e Adelaide e, amanhã, segunda-feira 26 de março, também em Sydney.

Nadyne diz que o assassinato de Marielle Franco e os protestos ao redor do mundo são temas que levantam muita polêmica, "...tanto ódio, que é muito difícil conseguir conversar de política no Brasil hoje".


Na página de eventos no Facebook, nas postagens do protesto, a brasileira Marilia Gabby comentou que "Não foi mais uma morte. Foram milhares de mortes em 9 tiros...".

Aqui, os esclarecimentos sobre o protesto de Sydney, copiado da página do evento no Facebook:

"Olá pessoal!

Em primeiro lugar, queremos agradecer do fundo do coração a vocês que se interessaram e se juntaram para que possamos protestar sobre algo tão importante como o que aconteceu. Acho que todo mundo aqui, mesmo longe do Brasil, sentiu uma grande quebra de vez na esperança de que o Brasil seja, um dia, um lugar melhor pra se viver. Mas também sentimos o ímpeto de lutar contra esse cenário negativo e desesperançoso, e nosso grito ecoará com outros gritos no mundo inteiro, para que essa execução, por mais triste e assustadora que seja, vire ao nosso favor, em favor de todos os brasileiros!

Em segundo lugar, queremos tratar aqui, juntos, qual é nosso intuito com essa manifestação. É MUITO IMPORTANTE que tenhamos claro o que queremos expressar, falar, mostrar, pois nossa força estará em nos expressarmos JUNTOS sobre o que aconteceu e, por isso, nós, organizadoras deste evento, pensamos em tratar exatamente, nem mais nem menos (explicamos logo abaixo o porquê), dos seguintes pontos:

Ponto n. 1: A Marielle foi EXECUTADA dentro de um contexto em que, num espaço de 14 dias, aconteceram os seguintes fatos:

28/02 - Foi escolhida pelas autoridades para ser a relatora da comissão que acompanharia a intervenção militar no Rio de Janeiro, que trabalharia com a polícia militar;

10/03 - Fez a seguinte denúncia, aberta, em seu facebook, sob o título ‘Somos todos Acari, parem de nos matar”, e pediu para que as pessoas também divulgassem a mensagem: “Precisamos gritar para que todos saibam o está acontecendo em Acari nesse momento. O 41° Batalhão da Polícia Militar do Rio de Janeiro está aterrorizando e violentando moradores de Acari. Nessa semana dois jovens foram mortos e jogados em um valão. Hoje, a polícia andou pelas ruas ameaçando os moradores. Acontece desde sempre e com a intervenção ficou ainda pior”.

Em 14/03 - foi EXECUTADA enquanto voltava para casa após uma roda de conversa com jovens negras. Seu carro foi interceptado e dispararam 9 tiros, 4 acertando sua cabeça, alvejando também seu motorista, Anderson.

Sobre o ponto número 1, acreditamos ser muito importante falarmos apenas em EXECUÇÃO, usando sempre essa palavra, e evitarmos a palavra morte. Por quê? Devido ao grande número de brasileiros que acham “ridículo, modinha, hipocrisia, coisa de esquerda” o tamanho da comoção com o caso Marielle e não com vários outros casos, acreditamos que seria muito importante deixar clara a diferença entre essas ocorrências, a grande ameaça que a execução em si e a forma que ela foi feita representam para todos nós. 

Marielle não foi vítima da violência de ponta (o assaltante) que assola o Rio e o Brasil, ela foi explicitamente calada, num contexto em que lutava para que as organizações funcionassem, que o respeito à vida fosse regra para todos, assim como a lei é para todos. Não estamos falando da morte de uma pessoa, por mais que lamentemos a morte dela, do pai que morreu na frente de seu filho, dos policiais mortos em serviço, etc. Estamos falando DO ABUSO SANGRENTO DE PODER, em que nenhuma garantia individual está segura, muito menos daqueles que ousarem fiscalizar o trabalho das instituições criadas para NOS servirem, nos resguardarem, cuidarem da nossa segurança, nosso direito à vida, ao trabalho, direito de ir e vir. E é muito importante falar que, em essas instituições não sendo sérias, cumprindo as regras a que são submetidas e que conhecemos (afinal, foram criadas para nós), temos um reflexo direto na violência de ponta, que aumenta e se intensifica!

Ponto n. 2: O trabalho de Marielle - queremos tocar no ponto dos direitos humanos também em função das inúmeras manifestações de ódio e disseminação de informação falsa por muitos brasileiros sobre a Marielle e o que são os direitos humanos, o que apenas dissemina ignorância e ódio, aprofundando nossa violência. Pensamos em fazer isso apenas através dos próprios trabalhos em que a Marielle vinha atuando, como forma de elucidar sua dedicação total à melhoria de vidas, vários tipos de vidas. Com isso, esperamos que o tão absurdo, cego e cheio de ódio bordão “Direitos humanos para humanos direitos”, ou ainda frases como “Ela defendia bandido”, "Morreu pela própria ideologia que defendia", dêem espaço para reflexão a cabeça dessas pessoas. Vamos usar a criatividade para fazer isso: cartazes com um ou dois temas da sua escolha, faixas, tudo mais. Segue abaixo uma lista dos projetos em que ela esteve envolvida, para vcs terem uma ideia, sem prejuízo de adicionarem qualquer outro trabalho, desde que as fontes sejam seguras: 

1. Aborto Legal: Que coloca na prática um direito que já existe para os casos de aborto e proteção e saúde da MULHER.
2. Conquistou a presidência da Comissão da Mulher;
3. Conquista do direito ao nome social no "crachá"de serviço da câmara de uma funcionária Trans;
4. Discussão sobre o papel da guarda municipal na política de segurança do Rio;
5. Denunciou e conseguiu revogação da nomeação absurda para o cargo de assessor da secretaria de assistência social e direitos humanos, de um indivíduo que pregava discurso de ódio na internet.
6. Projeto de lei espaço coruja, para possibilitar pais e mães trabalharem e estudarem a noite.
7. Participação de audiência pública sobre abuso de autoridade policial no Alemão, (policiais invadiram casa de vários moradores em nome de operação local e permaneceram nas casas, impedindo os moradores de voltarem, destruindo pertences e ameaçando não sair mais.)
8. Primeiro encontro de mulheres webativistas, transmitido ao vivo. 
9. Reunião nacional da Partida (discussão para aumentar a representação das mulheres na política.)
10. Estudo sobre o funcionamento de maternidades públicas no Rio de Janeiro;
11. Primeira campanha de visibilidade lésbica dentro da Câmara.
12. Audiencia Publica sobre MORTALIDADE MATERNA (tem aumentado nos ultimos 10 anos)
13. Luta contra intolerância religiosa.
14. 1o encontro Direito a favela no museu da Maré (formulação política pública com moradores de favelas e oficina entre jovens)
15. Projeto de Lei que amplia as casas de parto.
16. Conferência sobre mobilidade em Santiago, Marielle representou o brasil e falou sobre a violência que as mulheres sofrem nos transportes públicos.
17. Defesa da Cultura negra e antiracist.
Lançou a frente parlamentar , Economia Solidária, economia mais justa e humana, respeitando quem produz, quem consome e o Meio Ambiente.
18.Audiência Pública sobre Violência Sexual e saúde da mulher.
19. Trabalhadoras da saúde em casos de estupro na favela.
20. Apoio a varias famílias, incluindo de policiais"

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