Lições de atualidade dos sábios de 25 séculos atrás da Grécia Antiga

Tucídides

Tucídides é testemunho de um flagelo que assolou Atenas naquele época há 2400 anos: a epidemia de uma doença desconhecida, supõe-se que tifo ou peste. Source: Wikipedia -- Creative Commons -- Walter Maderbacher

Tucídides nos trouxe um ensinamento para o presente: falou sobre o descuido das pessoas que não respeitavam a prudência e não evitavam as grandes aglomerações na cidade, lugar privilegiado para a propagação da doença


Eles foram contemporâneos, há 25 séculos. Com 25 anos de diferença de idade.

Heródoto, o mais velho, é o primeiro dos jornalistas e o primeiro dos historiadores.

Nasceu em Halicarnasso, na Ásia Menor, lugar que é hoje Bodrum, na Turquia.

Escreveu no prefácio da grandiosa obra Histórias, que veio a ser dividida em 9 volumes,

“Dou-lhes o resultado das minhas investigações”.

Heródoto é o primeiro jornalista de investigação. Conta-nos a história da invasão persa da Grécia no princípio do século V A.C.

A seguir, como grande historiador e jornalista, veio Tucídides.

Com uma diferença entre eles: enquanto Heródoto fez investigação e escreveu sobre acontecimentos de um passado então recente, Tucídides escolheu voltar-se para o presente, do tempo que viveu.

Tucídides é testemunho de um flagelo que assolou Atenas naquele época há 2400 anos: a epidemia de uma doença desconhecida, supõe-se que tifo ou peste.

Tucídides conta-nos nas 800 páginas da História da Guerra do Peloponeso, livro editado em português pela Gulbenkian, o heroísmo dos médicos de então ao enfrentarem aquele mal desconhecido.

Tucídides observa, recolhe testemunhos e relata-nos que eles, os médicos, eram o grupo mais massacrado pela doença, isto por lidarem diretamente com os doentes apanhados por aquela praga que, resume, “escapa a qualquer descrição”. A praga entrou pelo porto do Pireu, depois subiu, devastadora, à cidade alta de Atenas.

As pessoas, relata, (e ele próprio também foi contagiado) começavam por sentir forte calor na testa, febre altíssima, em volta dos olhos tudo inflamado e a língua cor de sangue. Depois vinha a tosse funda e ao mesmo tempo os ataques de bílis.

Os médicos conseguiram salvar alguns dos infetados, Tucídides conta que essa era “a extraordinária alegria” que partilhavam.

Tucídides também nos trouxe, há 25 séculos, um ensinamento para o presente: o descuido das pessoas que não respeitavam a prudência e não evitavam as grandes aglomerações na cidade, lugar privilegiado para a propagação da doença.

“Nem o temor dos deuses, nem alguma lei humana conseguia – escreve Tucídides - fazer o nobre ideal prevalecer sobre o prazer imediato”.

Tucídides, na análise, incita-nos a recusar a imprudência e a negligência. É uma receita que, antes da vacina, continua 25 séculos depois, a maior prevenção frente à pandemia.

Agora, nestes dias de acanhado espírito natalício com a Covid-19, apareceu a inesperada variante inglesa do virus a acrescentar incógnitas às inquietações que temos. Estamos avisados de que aumenta a velocidade de contágio, portanto o perigo – mas também temos os cientistas a tranquilizarem: não vai perturbar as vacinas.

A COVID mudou tudo neste 2020: os nossos hábitos, o estilo de vida, as relações interpessoais, o trabalho, a saúde, a escola, a economia, o comércio, a saúde, o lazer, a viagem. Separou jovens de tantos mais velhos. Trouxe pobreza e impõe-nos distância. Até na mais terrível despedida a quem parte.

Fez-nos pararmos os planos de qualquer futuro próximo, confina-nos no dia a dia.

Agora, estamos a poucos dias de começar a necessariamente longa introdução do antídoto a esta rotura.

Vem aí a vacina, produto de extraordinário trabalho científico.

É um alívio, embora sabendo que só para daqui a alguns meses – e também que até lá, se não seguirmos a lição de Tucídides, ainda podemos comprometer a confiança.

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